Biografia de José Maurício Penna*

Nascido em Belo Horizonte em 20.10.1926, filho de José Ribeiro Pena (itapecericano) e Maria José Nogueira Pena, casal de políticos que muito fez por Itapecerica no exercício de diversos cargos públicos.

Casou-se com Maria Luiza Mezêncio Penna, professora nascida e criada em Itapecerica, com quem teve três filhos: José Ribeiro Pena Neto (engenheiro, nascido em Itapecerica), Maria Goretti Penna Lamounier (médica) e Luiz Maurício Mezêncio Penna (engenheiro). Deles teve 8 netos: Henrique, Mateus, Rodrigo, Ludimila, João Maurício, Luiza, Eduardo e Raíssa.

Durante sua infância e adolescência, seus pais residiram em Itapecerica durante algum tempo e ele permaneceu em Belo Horizonte, na casa dos avós maternos, por causa dos estudos, tendo feito o curso primário no Grupo Escolar Barão do Rio Branco e o secundário no Colégio Arnaldo. Mesmo assim, frequentou muito a cidade Itapecerica, convivendo com a grande família de seu pai e fazendo na cidade muitos amigos.

Cursou direito na tradicional “Casa de Afonso Pena”, a Faculdade de Direito da atual UFMG, onde se formou em 1949, o mais jovem de sua turma, que contou com expoentes das ciências jurídicas e da política em Minas Gerais.

Nos últimos meses do curso de direito, já passava parte de seu tempo em Itapecerica, onde começava a trilhar os caminhos de uma brilhante carreira jurídica. Ali veio a se casar, em 1951, com sua querida Liliza, descendente das famílias Mezêncio e Moreira. Começou a constituir também sua família.

Em Itapecerica, teve uma rápida incursão na política, elegendo-se vereador e exercendo a presidência da Câmara. Não quis, porém, trilhar o caminho dos pais, desistindo da carreira após o único mandato.

Em 1955, transferiu-se para Belo Horizonte onde ingressou na carreira de Procurador do Estado e, também, no departamento jurídico do então Banco Mineiro da Produção, posteriormente Bemge. Montou, ainda, escritório de advocacia com outros colegas. Tanto no Bemge quanto na Procuradoria, foi sempre considerado uma referência por seus profundos conhecimentos jurídicos, bem como exemplar conduta ética. Além disso, era muito querido dos colegas por sua simpatia e bondade, que encantavam desde os mais humildes até os mais graduados.

Aposentou-se no Bemge na década de 1980, sendo contratado pelo Banco Agrimisa, onde permaneceu por pouco tempo, pois queria ter mais tempo para a família e o lazer.

Na Procuradoria, fez notável carreira, galgando diversos postos na hierarquia. Em 1996, quando ocupava o cargo de Procurador-Geral Adjunto, aposentou-se compulsoriamente ao completar a idade de 70 anos.

Na família, além do marido, pai e avô, sempre presente na vida de todos, era o tio querido dos muitos sobrinhos, principalmente aqueles de Itapecerica onde sempre se fazia presente. Adorava crianças, apreciava o papo com os amigos a quem não faltava com sua presença nos momentos de alegria e de dor. Com os mais velhos, sempre mostrava apreço e dedicação. Assim, tinha especial carinho com suas avós Minica, em Itapecerica, e Elódia, em Belo Horizonte. Cuidou muito da mãe, que sobreviveu a ele, nos anos em que ela se viu abatida pela doença e impossibilitada de se locomover.

De alma extremamente bondosa, praticava a caridade, procurando ajudar os menos favorecidos, fossem parentes, amigos ou anônimos. Católico fervoroso, era presença constante nas atividades da Paróquia de Santana, em Belo Horizonte, onde integrou o Conselho e prestou assessoria jurídica.

Apesar de não ter nascido em Itapecerica, amou a cidade como poucos. Foi, inclusive, presidente da AITA-BH por algum tempo.

Nos últimos anos de sua vida, dedicou-se mais ainda à família e às atividades de lazer. Lia muito, chegou a fazer algumas incursões pela literatura, aprendeu informática, divertindo-se no computador e apreciava viajar. Um de seus passatempos prediletos eram os cruzeiros marítimos que fazia com a amada Liliza. Em 2001, para comemorar as Bodas de Prata, levou toda a família a um desses cruzeiros.

Em outubro de 2003, uma surpresa desagradável. Umas dores poucos dias antes de completar os 77 anos de idade o fizeram procurar ajuda médica. Pouco depois, o diagnóstico: teria de se submeter a uma cirurgia de revascularização do miocárdio. Logo ele que sempre gozara de ótima saúde e muito se cuidava. Todos, porém, esperavam sucesso na cirurgia, mas os destinos de Deus estavam traçados: queria o filho dedicado junto a ele no céu. E assim ele partiu em 15/12/2003, após sofrer por duaas semanas na UTI de um hospital em Belo Horizonte, vítima de complicações pós-operatórias.

Seu exemplo permanece vivo para os filhos, netos e os muitos amigos que cultivou.

* Ele sempre grafou seu nome com dois enes ainda que seus documentos registrassem a forma com apenas um ene (Pena).

Homenagem da AITA-BH a José Maurício Penna

No dia 10/11/2007, a AITA-BH homenageou, entre outras personalidades ligadas a Itapecerica, José Maurício Penna em solenidade realizada na Associação Comercial da cidade. Na ocasião, coube a José de Anchieta Corrêa fazer a saudação a Maurício Penna. Anchieta, professor de filosofia, escritor, intelectual, é primo de Maria Luiza (Liliza), viúva de Maurício. Foi o cupido do namoro que resultou no casamento!

Elogio a José Maurício Penna

Por José de Anchieta Corrêa (10/11/2007)

Minha primeira palavra seja de agradecimento à Diretoria da AITA por, generosamente, me ter concedido essa honra e alegria de prestar homenagem a José Mauricio Pena, primeiro presidente da AITA e, para mim, sobretudo, saudoso e sempre lembrado amigo.
Em verdade, desejei e postulei esta tarefa. Superei o temor de estar aqui, uma vez mais, diante dessa cena, no momento em que a AITA se reúne em Itapecerica para homenagear conterrâneos ilustres que enriquecem e enobrecem a vida de nossa terra. Por que eu? quando há outros tão ou mais competentes para fazê-lo, outros aos quais de direito lhes caberia essa honra.
Acontece que razões do coração, afetos que permanecem vivos em minha memória e ressoam no meu corpo, me obrigam a dizer e agradecer à vida por um dia me ter proporcionado conhecer e me tornar amigo do Maurício Penna, como assim o chamávamos. Basta-me vir a Itapecerica contemplar o Candonga e o Calado, esses dois monumentos de pedra a dialogar silenciosamente entre si, para que a lembrança de Maurício e de nossos passeios por aqueles altos caminhos e matas acolhedoras se façam acompanhar dos ecos dos diálogos de outrora entremeados de alegres risos.
Caminhar até o início do Bairro do Arranca Toco, mesmo não havendo mais a Casa do Ribeiro Penna, faz ressoar no tempo os sons da primeira máquina de escrever que Maurício gentilmente me cedeu para que pudesse aprender a datilografar, e dominar uma técnica que me serviria para mais tarde obter com mais facilidade um emprego. Rever o prédio do ginásio, onde Maurício foi meu professor de Geografia, é uma ocasião a mais para alegres lembranças. É preciso ser um verdadeiro pedagogo, amigo do saber, para levar os melhores alunos da sala a decorarem todos os acidentes da costa brasileira. Acontece que entre nós e o professor nascia uma alegria compartilhada pela nota dez recebida. Naquele momento, talvez não soubéssemos que aquela nota dez era, primeiro e sobretudo, devida ao professor, que tão bem sabia transmitir o desejo e a alegria do ato de conhecer para seus alunos.
Da casa de Tia Nenzinha, apesar de hoje, tão desfigurada abrigando uma farmácia, vem-me, de imediato, a lembrança das primeiras visitas do namorado a sua namorada Liliza, filha da Casa. Tais recordações só me confirmam que é entre sinais e enigmas que nos movemos.
Enquanto me preparo para prestar estar homenagem uma lembrança particular insiste em ocupar minha mente. Uma lembrança e uma pergunta: donde e como, a principio, me ocorreu começar aquela simples brincadeira de pombo correio entre Maurício e Liliza? Preciso, então, acreditar quão misteriosa e maior é a vida, naquele momento, fato e razão inimagináveis para o jovem buscando tecer laços afetivos entre a prima e o amigo. No começo eram apenas tímidas palavras trocadas que em nada prenunciavam o início de um verdadeiro amor. Como adivinhar o porvir dessa arte feita de declarações de afeto e de interesses mútuos? Arte consentida e incentivada pelos dois que, através de um diálogo de poucas palavras, mesmo assim ressoava alegre para o primo e amigo. Como suspeitar o desencadear dos sentimentos de afeto recíprocos, manifestação do amor de um para o outro? Onde fui buscar coragem para tal empreitada? Em uma época onde os jogos amorosos eram “coisa séria”, deviam ser recatados e discretos aos olhares dos outros. Levanto para tanto a seguinte hipótese: convivendo com Maurício, certificando que ele não se comportava como os outros rapazes e estudantes se ocupando a fazer o “footing” no quarteirão do cinema da Rua Direita, lugar e ocasião para começar um flerte, fazer um contato. Maurício precisava, então, de se valer de outras formas de arranjar uma namorada. Aí entrava o amigo. Talvez tudo não passe de pura imaginação, de um ontem que volta hoje, uma vez que o amor e a vida têm segredos que só o coração dos amantes conhece. Mas fico feliz por ter feito parte desse belo encontro.
A escrita verdadeira desse romance só Liliza aqui presente poderá dizer como esse amor foi tecido. É bom lembrar que os dois já tinham se encontrado na condição de professor e aluna. Certo estou apenas de que essa tarefa me era muito agradável com a aprovação de Maurício e o consentimento da Liliza. Não posso, então, deixar de alegrar pensando no milagre e na grandeza da vida que do encontro de um homem e de uma mulher faz gerar mais vidas, trazendo ao mundo outros seres, outras possibilidades de enriquecimento e valorização da história humana. Assim nasceram o José, a Goretti, o Luís Maurício. Atenção Marli, esposa do José, poderia acrescentar o Henrique, o Mateus e o Rodrigo. O Candido, esposo da Goretti a Ludmila, o João Maurício e mais a Luiza, tão querida pelo Mauricio. A Andréia, esposa do Luiz Maurício acrescentará o Eduardo e a Raissa.
Perdoem-me, mas há ainda uma palavra pessoal a dizer: confessar uma dívida. Em Belo Horizonte, na minha biblioteca, lá está um livro de um autor argentino, Constancio Vigil, Terra Virgem, que em 24/06/1950, por ocasião de meu aniversário, Maurício e Liliza me presentearam. Presente profético, presente de amigos, companheiros que sabem fazer o caminho juntos. Esse gesto me remete ao relato registrado pelo evangelista Lucas, 24/32, descrevendo a alegria proporcionada pela a presença e companhia do Mestre junto aos discípulos que se dirigiam a Emaús, fazendo-lhes admirados perguntar “nosso coração não estava mais quente, queimando dentro de nós quando ele falava no caminho?” Terra Virgem é um livro de filosofia moral, contendo muitos preceitos éticos. Filosofia foi a tarefa que no seguir do caminho da vida escolhi para trilhar. Só posso então dizer muito obrigado à Liliza, obrigado ao Maurício por esse dom da amizade que se revelou tão significativo para minha vida.
Perdoem-me ter ousado me colocar tão pessoalmente nessa saudação, mas me sentia na obrigação, antes de tudo de dizer do forte laço da amizade que me uniu ao Mauricio e continua existindo com Liliza sua esposa e, só depois, fazer surgir parte da história de nosso homenageado. Por esse caminho quero testemunhar que Maurício continua a viver em muitos corações, em espaços, histórias, relações, descendências e amigos e, em especial entre nós da AITA, da qual foi seu primeiro presidente.
O importante é, pois, recordar essa pessoa, que construiu uma bela e significativa história, deixou tantas marcas e semeou boas sementes em sua passagem pelo mundo dos homens. Muito mais que falar dos cargos que Dr. José Maurício Penna ocupou com brilho e dignidade - professor do Colégio Imaculada Conceição, do Ginásio Padre Herculano Paz, Presidente da Câmara Municipal de Itapecerica e Procurador de Justiça do Estado de Minas Gerais, importa falar das virtudes do homem – José Maurício Penna e revelar suas virtudes.
Acerca das virtudes hoje pouco se fala. Semanticamente, o termo “virtude” sofreu uma decaída, reduzindo-se a significar uma qualidade que se acredita mais própria às mulheres que aos homens. Entretanto, em sua raiz semântica, virtude vem do latim “vir, i”, que nos levará a palavra “varão”, isto é, um homem respeitável pelos seus feitos. Fazer o elogio da vida de José Maurício Penna é fazer o elogio de suas virtudes. Dizer que espécie de varão foi esse homem.
Creio ser consenso entre os seus familiares, inúmeros amigos que lhe conheceram afirmar que Maurício tinha e exercia, em alto grau, as virtudes da simplicidade, da generosidade, da amizade e da justiça.
As virtudes quando exercidas se comunicam entre si na vida de um homem, tanto assim que para ser possuidor de muitas virtudes não lhe podia faltar também a virtude da coragem, pois a coragem é virtude necessária ao exercício de todas virtudes. Maurício era, pois, um homem exemplarmente corajoso, um atleta do espírito, porque simples, generoso, amigo e justo.
Por formação e profissão se fez um promotor da justiça. Sabia ser justo, sendo simples e afável, o que lhe possibilitava acolher a todos: ricos e pobre, velhos e jovens, correligionários políticos de seu pai ou não, letrados ou analfabetos. Donde lhe vinha essa simplicidade, essa afabilidade? A simplicidade é primeiramente o esquecimento de si. Mauricio sabia por de lado sua formação intelectual, sua cultura e sua singular situação familiar, filho de um chefe importante político, o Ribeiro Penna, deputado várias vezes, Presidente da Assembléia Legislativa do Estado e Vice-Governador do Estado. Não bastasse isto, filho igualmente de D. Maria Penna, uma mulher doce e guerreira que mais tarde, em tempos difíceis para nosso país, seria uma notável representante do povo mineiro, exercendo com coragem e altivez o cargo de deputada estadual. Maurício era simples e afável porque sabia agir esquecendo as diferenças que lhe conferiam um status social privilegiado.
O filósofo dirá: “tudo é simples para Deus e tudo é divino para os simples”. Sabemos, igualmente, por outro lado, que nossas melhores ações e nossos sentimentos podem parecer suspeitos e equívocos para muitos. Quem possui a virtude da simplicidade sabe disso e nem se importa. Não se interessa, igualmente em ser juiz dos atos e caminhos dos outros humanos. Nada tem a buscar. Há comportamento mais leve, sobretudo, para um homem de formação religiosa tal como foi Maurício Penna? “A simplicidade é virtude dos sábios e a sabedoria dos santos”. Maurício era bem uma personalidade de uma leveza que comunicava paz e alegria. É possível que, para àqueles que não lhe conheciam de perto, possam julgar-lhe desligado desse mundo onde impera uma luta política injusta e mesmo desumana. Todavia esse aparente desligamento era apenas um modo de se tornar accessível ao outro, de se comportar como irmão, amigo do outro. Na verdade, era a demonstração da generosidade e amizade reveladas nas relações de Maurício. A generosidade é a virtude do dom. E o dom ao contrário do que se pensa não precisa, não busca, não exige um contra-dom. É costume, em Minas Gerais, quando se recebe um presente, um prato de pão queijo, sentir-se na obrigação de devolver o prato com outra dádiva. A gente pouco se dá conta que isto é apenas um costume burguês. É interessante lembrar que na língua alemã, “dom” e ”veneno” são termos escritos como uma mesma palavra, onde só vária o gênero que antecede ao mesmo termo. Há povos que, assim compreendendo, costumeiramente encenam uma guerra de dons. O verdadeiro dom não busca, pois, retribuição. É nada mais que expressão da generosidade, sinal do solo sob o qual se estabelecem as verdadeiras amizades.
Aristóteles dedica todo o livro VIII da Ética a Nicômaco para falar da amizade. Para ele a amizade é “a virtude mais necessária para viver.” Todos os outros bens não valem o que vale uma amizade. Segundo o filósofo os legisladores parecem dar mais atenção a presença da amizade que a própria justiça. “Amigos, escreve, não necessitam de justiça: justo ainda necessitam de amizade”. Ou ainda “a justiça mesmo consumada não nos dispensa da generosidade”, assim se a generosidade é socialmente menos necessária, humanamente é a mais preciosa.
E Maurício sabia ser amigo e generoso, a começar pela sua família. Avesso ao exercício da política partidária, por amor-amizade e generosidade-filial aceita candidatar-se à vereador em Itapecerica fazendo a vontade de seu país. Termina Presidente da Câmara.
Talvez bastasse resumir dizendo que Mauricio foi, sobretudo, um homem ético, uma pessoa que sabia escolher e construir sua morada, traçar seu caminho. Sabia tão bem que nascido em Belo Horizonte, se fez itapecericano por eleição, cuidado, e carinho pessoal às pessoas e às coisas a nossa Terra de São Bento do Tamanduá. Qualidade que, não se pode esquecer, ele não cansava de proclamar.
Nada mais é preciso dizer para justificar a homenagem que a direção da ITA 2006-2007 presta a seu primeiro presidente. E o faz para dizer que ele continua sendo o marco a bandeira de que todos na AITA nos servimos para traçar rumos, planejar nossas atividades para bem servir a Itapecerica. A presença de Maurício permanece e permanecerá sempre viva nas diretrizes e ações da AITA.
Liliza e demais familiares levem para casa esse testemunho, simples, mas eloquente porque verdadeiro, de que o Dr. José Maurício Pena continua vivo e atuante nos destinos não só da AITA, mas igualmente junto a seus amigos e assim bem perto de Itapecerica que ele tanto amava.

Sala dos Advogados

por José Maurício Penna (publicado em 2009)

José Maurício Penna deixou escrita uma coletânea de contos, que quase seis anos após sua morte publicamos. Abaixo, a capa do livro. Para maiores informações, pedimos entrar em contato.

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